quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Brasil, ame-o até que lhe sejam modificados a realidade e o odor

Você com certeza já percebeu a capacidade do corpo humano de se acostumar com cheiros, bons ou maus. Em pouco tempo seu nariz nem mais sente aquela fragrância de perfume, e isso é algo que faz bem para o nosso organismo.

Quando inalamos ar, as moléculas que passam pelas nossas narinas se prendem em uma parede de muco na parte de trás da garganta. Esse muco é receptor de células que avisam seu cérbero que você acabou de cheirar algo. Como o cérebro está sempre atento para novas "ameaças", ele foca em novidades no campo da visão, das sensações e dos cheiros. 

Depois de algumas "inaladas", o cérebro entende que o cheiro é algo ok e que não representa nenhum perigo. 

Talvez por ter-me lembrado de Eurico Salis, reconhecido e premiado fotógrafo brasileiro, que há alguns anos retratou maravilhosamente a beleza natural das paisagens californianas.

Lembro-me de um trecho em uma das postagens do seu blog que dizia assim:

- Ontem a noite estava jantando com amigos  na casa da Lilian, brasileira radicada há 30 anos aqui na Califórnia. Entre os presentes, Saulo Filho, professor da UnB, graduado com doutorado na Alemanha, atualmente fazendo pós doutorado em meio ambiente, aqui na Universidade da Califórnia, Carlos Motta, designer e arquiteto paulista, 62 anos, surfista convicto, entre amigos brasileiros e americanos. 

O assunto era: amar ou não amar o Brasil. Todos concordavam no essencial: o amor ao Brasil. Então lembrei a resposta de Tom Jobim comparando Nova York ao Rio de Janeiro  “Nova York é bom, mas uma merda; o Rio é uma merda, mas é bom".  Como o Brasil, hoje. Bom mas ruim.  
Outro dia postei aqui uma frase singela e verdadeira, refletia o meu sentimento de retirante, depois de um ano fora: saudade do Brasil. 

Saudade, aquele sentimento de quem ama alguma coisa, aquele sentimento de falta de alguma coisa,  aquele sentimento de quem perdeu alguma coisa. No meu caso, tudo isto está junto num mesmo sentimento. 

Nunca fui daqueles brasileiros que logo que chegam no exterior manifestam seu desprezo pelo Brasil, nunca gostei de fazer comparações entre países incomparáveis. O contrario disso. Minha percepção da grandeza do Brasil, da criatividade de seu povo, da rica cultura, das artes e da música encantadora, de suas enormes potencialidades ficam mais aguçadas quando vou para outro pais. 

Principalmente  a Califórnia, minha segunda nação, minha segunda casa. Embora perceba as qualidades do Brasil, as inúmeras qualidades dos brasileiros, vejo também o caos crescente, as dificuldades intransponíveis fortalecidas, as velhas formas de poder mantidas, a tensão radicalizada nas redes sociais entre governistas e opositores, a ausência de racionalidade para avaliar a política, e a escandalosa falta de solidariedade, inclusive nas manifestações de intelectuais presos a velhas ideologias mofadas. Lembro do poeta Cazuza, sempre libertário, sempre independente destas ideologias atrasadas cantando “ tua piscina esta cheia de ratos, tuas idéias não correspondem aos fatos…”. 

Fico triste em ver gente triste por que outros estão tristes com os rumos do Brasil. Neste momento acho o Brasil uma merda. Uma merda porque alguns poucos intelectuais buscam enxergar a realidade impregnados por um sentimento nacionalista reacionário, comprometidos com partidos mais do que com o Brasil, tentando reascender antigos chavões, como aquele  “Brasil, ame-o, ou deixe-o”, como se isto fosse um filme na sessão vale a pena ver de novo. “Brasil, ame-o ou deixe-o, O retorno”.  

Eu amo meu país, e ponho o Brasil acima de qualquer partido político. 

Mesmo que a piscina esteja cheia de ratos, e a realidade não corresponda ao fatos. Agora, volto para o Brasil com um projeto na cabeça,  e muita brasilidade na mira.

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