quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Cérebro NÃO Mente - Eu não creio em bruxas, mas...

  • Eu não creio em bruxarias, mas que elas existem, existem! (Cervantes)
Vivemos em tempos de busca de comprovações. No entanto, a astrologia, a vidência e a magia não perderam sua atratividade. Pelo contrário: no Brasil não há levantamentos específicos sobre o tema, mas muita gente ainda bate três vezes na madeira para espantar o azar e certamente vai repetir a roupa que acredita lhe trazer sorte, principalmente em dia de jogo decisivo da Seleção Brasileira. Nem mesmo cientistas, preocupados com comprovações, estão livres de superstições: em 2008, Richard Coll e seus colegas da Universidade de Waikato, em Hamilton, Nova Zelândia, entrevistaram 40 representantes de diversas disciplinas – entre eles, físicos, químicos e biólogos – sobre sua opinião a respeito de fenômenos sobrenaturais. Anonimamente, vários reconheceram a crença no efeito curativo de pedras preciosas, na existência de espíritos e extraterrestres, quase sempre com base em experiências pessoais ou em relatos convincentes. Alguns afirmaram que amigos e parentes haviam sido curados de graves doenças após o apelo a um poder maior. Os céticos, por sua vez, justificavam a descrença recorrendo a considerações teóricas.

Observando esses dados podemos pensar que, apesar de toda a tecnologia que nos cerca, a fé em manifestações sobrenaturais permanece e muita gente continua imaginando que eventos concomitantes têm relação causal entre si mesmo que, na verdade, sejam independentes. Quem foi bem-sucedido em diferentes situações e por fim percebe que esteve sempre usando a mesma jaqueta nesses momentos provavelmente logo vai considerá-la o seu talismã pessoal – sem procurar as causas reais do sucesso.

Em 1987, o pesquisador Koichi Ono, da Universidade Komazawa, em Tóquio, espalhou sobre uma mesa três caixas, cada uma com uma alavanca na parte superior. Um contador em uma lateral móvel saltava em intervalos aleatórios para o próximo número mais alto e o movimento era acompanhado de um zumbido e uma luz vermelha que acendia. Além disso, três lâmpadas sempre voltavam a piscar ao acaso. Os 20 voluntários que participaram do estudo deviam obter o valor mais alto possível no contador por meio de qualquer comportamento, de preferência criativo. Dois participantes desenvolveram, no decorrer do experimento, algo semelhante a um comportamento supersticioso, um deles especialmente marcante: certa vez, o contador se moveu justamente quando a mulher estava pulando da mesa – em seguida, ela passou a saltitar incansavelmente para elevar de novo o resultado. Quando tocou o teto com o sapato na mão, a lâmpada também se acendeu, o zumbido soou e um ponto adicional surgiu no contador. Então a voluntária passou a se esticar, apontando o sapato para o teto ao pular até desistir antes do término do experimento – provavelmente por exaustão, como escreveu o coordenador do estudo.

Koichi Ono concluiu que um ritual pode reforçar o próprio comportamento, principalmente se a pessoa o repete seguidamente, pois nesses casos a probabilidade é maior de que a situação esperada ocorra, por pura coincidência. O homem tem uma ideia bastante clara de como o mundo funciona, de forma que algumas associações lhe parecem plausíveis; outras, por sua vez, absurdas. Ainda assim, muita gente prefere não brincar com a sorte, pois como diz o ditado espanhol, yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay (eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem). Esta é uma frase de Cervantes em “Dom Quixote”. Esta frase, o povo a traduziu para “eu não creio em bruxarias, porém que existem, existem”. 

As superstições, as crendices, abusões, existem em todas as regiões, todos os países, todos os continentes, desde tempos remotos. O nosso imenso Luiz da Câmara Cascudo, em seu excelente Dicionário do Folclore Brasileiro, dá uma perfeita definição sobre as superstições: “Resultam essencialmente dos vestígios de cultos desaparecido s ou da deturpação ou acomodação religiosa contemporânea, condicionados à mentalidade popular.” Mais adiante diz: “O Visconde de Santo Tirso: Era supersticioso Napoleão, e era supersticioso Bismark. É livre de toda superstição qualquer jumento, o que prova que a liberdade de espírito não é incompatível com o comprimento das orelhas.”Prosseguem as suas válidas considerações a respeito do assunto, que não dá para transcrever integralmente para não alongar muito este texto. Conta-se, também, que os antigos reis e imperadores  eram supersticiosos. Também Mussolini e Hitler o eram, e muito. Mozart e  Bach igualmente o foram. Muitos deles baseavam suas decisões na astrologia ou nos adivinhos e nos tidos como sábios no remoto passado. Nos poucos dicionários que possuo, inclusive no Aurélio, o que, para mim, melhor define o que seja superstição é o Houais: “1 – crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, a depositar confiança em coisas absurdas, sem nenhuma relação racional entre os fatos e as supostas causas a eles associadas, crendice, misticismos. (p.ex. vários hotéis nos EUA não possuem 13º and.). Já encontrei muita gente afirmando que não crê em superstição nenhuma; não sei, tenho minhas dúvidas, e são tantas... Não vou negar: embora não queira acreditar, remanescem algumas da minha infância, que foi um tempo de muito misticismo; a população era em sua grande maioria católica, mas, nesse particular, muitas pessoas não  obedeciam aos princípios da religião, embora alguns autores digam  que muitas crendices falsas tenham nela fundamento.

- Netsurfing

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