quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Sonhos e Castelos no Ar - De que são feitos os Sonhos

“Nada será sempre o mesmo, nem nada será o mesmo para sempre.”


Em obras!

Pelo que já vivi
Pelo que vivo
Pelo futuro
Por tudo o que foi dito
Por tudo o que ficou por dizer
Por tudo o que foi
e não voltará a ser…

Viver no século XXI não é tão complicado. Há violência, há perigos? Oh sim, mas muito menos que havia em séculos anteriores, onde a vida de um homem valia pouco e a morte, mesmo criminosa, era um evento cotidiano. A Medicina moderna permite que até portadores de doenças anteriormente fatais consigam sobreviver, e até ter uma razoável qualidade de vida. Quando uma criança nasce, sabe-se que (exceto por acidentes de percurso) ela irá chegar até a velhice, desfrutando milhares de dias sobre a Terra.


Mas a vida é feita de dias e de sonhos. A proporção destes dois elementos na vida de cada um é variável, e muito dependente de nosso livre arbítrio.  Todos têm seus sonhos, desde os “que vou ser quando crescer” da primeira infância. Sonhos, em minha opinião, são como os pavios que servem para acender os fogos de artifício. 

Nós dedicamos boa parte de nosso tempo a fabricá-los, a tecê-los volta a volta, e até a uní-los ao foguete que é seu destino final. Mas nem todos chegam ao ponto de acendê-los e ver o que acontece…

Ensinam-nos desde cedo que os foguetes são perigosos: nunca se sabe se, quando acesos, não vão voltar-se contra aquele que os acendeu. 

Mas, como temos uma inata e humana tendência a apreciar fogos de artifício, nunca desistimos de deixar os pavios prontos em nossa mente… naqueles momentos em que a cabeça está insone sobre o travesseiro; quando o olhar se perde durante o tédio do expediente; ou quando o objeto de nosso desejo passa em frente aos nossos narizes.

Na peça “A Tempestade”, de Shakespeare, o personagem Prospero diz sua famosa frase “somos feitos da mesma matéria com a qual são construídos os sonhos“. Toda esta peça brinca com os conceitos de realidade e fantasia – foi uma das últimas peças escritas por Shakespeare, e ele a preenche com sua percepção, após uma vida inteira escrevendo teatro, que vida e teatro não são tão diferentes assim. Na fala do personagem Prospero (um mago) insinua-se que tanto o mundo “da imaginação” quanto o “real” são meros conceitos esperando uma confirmação. O que está por vir é tão incerto que dizer que se deve viver “no mundo real” ao invés do “mundo dos sonhos” só dá segurança por ilusão.

Um sonho é uma hipótese… um pavio não aceso, até que a decisão de acendê-lo o transforme em uma explosiva realidade, para o bem ou para o mal. Mas o amanhã do dia-a-dia, da rotina, também é apenas uma possibilidade: a diferença é que na maior parte das vezes a “realidade” é um foguete que outros acendem por nós. Como diz a canção do início do post, há alguns sonhos que SE OUSAM sonhar, e que em algum lugar mágico podem tornar-se realidade – ainda que este lugar mágico seja o quintal de nossa casa.

Para algumas pessoas, construir os pavios já é o sustentáculo de toda uma vida… uma farsa mental sem a qual ela se tornaria insuportável, mas jamais ousam ou têm a chance de acendê-los. Quando certos acontecimentos provocam uma faísca inadvertida que acende um destes pavios despretensiosos, a magia de perceber que sonhos são feitos da mesma matéria da realidade pode mudar todo o sentido de uma vida.

Eu realizei alguns sonhos nesta vida… (ainda nem a metade do que espero conseguir) até aqueles eu jamais esperava realizar… e  para alguns foi preciso pouco mais que coragem para acender um pavio esquecido. Sim, já levei foguetes na cara… mas a beleza dos demais, explodindo em cores no céu da minha alma, compensou tudo. Um sonho realizado vale cem mil dias. Justifica tudo, alimenta, conforta em momentos de fraqueza. Tornei-me um adicto, um viciado em sonhar…  e estimular os sonhos dos outros. Não permitir que se leve uma vida apenas pendurando sonhos em nuvens, construindo pavios que jamais serão acesos…

Uma vida fechada e sem riscos, ou uma vida atrás de sonhos que talvez jamais se realizem… há realmente uma escolha possível? Shakespeare conduz “A Tempestade” como um exercício complexo, em que real e imaginário se confundem, uma peça dentro de uma peça… e nos desafia a descobrir se há limites ou se eles existem apenas em nossos preconceitos. Descobrir que um sonho e uma reunião de trabalho têm a mesma capacidade de se realizar é a experiência que muda tudo, que justifica a existência. O arco-íris de Dorothy é uma metáfora de sua própria casa, o que provoca a reflexão de quantas vezes desistimos de realizar um sonho porque fingimos que ele é impossível… é uma mentirinha aconchegante, sem dúvida. Mas… como todo vício, tentar realizar um sonho torna-se impositivo depois da primeira experiência.

Eu não sabia que era impossível, diz um vencedor, por isso fui lá e consegui.

Nunca diga a ninguém que isto ou aquilo é impossível, isto vai jogar um balde d'água no pavio de seu foguete, impedindo-a de voar.



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