segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Brasileiro é crente porque é irracional


Brasileiro, fé demais atrapalha. - Fé no bilhete é fé demais!:

Por que jogamos na loteria se a probabilidade de ganhar é baixa? Por que você continua jogando na loteria?

Algumas apostas, junto com uma dose cavalar de sorte, podem lhe ajudar a pagar todas as suas contas e se sustentar por anos sem ter que trabalhar. É claro que as chances de isso acontecer são minúsculas, mas isso não impede milhões de pessoas de jogar na loteria.

De acordo com o professor de estatística Jorge Oishi, da Universidade Federal de São Carlos, as chances de alguém ganhar a qualquer Mega-Sena é de uma em 50 milhões.

Em termos de probabilidade, há mais chances de você ser atingido por um raio (uma em 3 milhões), ser atacado por um tubarão (uma em 11,5 milhões) ou morrer por causa de uma picada de abelha (uma em 6,1 milhões). Por que gostamos de apostar mesmo assim?

Os pesquisadores Stephen Goldbart e Joan DiFuria, em artigo publicado na revista Psychology Today, apontam pelo menos duas razões por trás do sucesso das loterias: a vontade de fazer parte da “maioria” e a busca pela sensação de ter menos responsabilidade (uma grande fortuna poderia aliviar muitas preocupações, certo?).

Outro motivo era o baixo custo de uma aposta – “gaste pouco e ganhe muito” é uma ideia atrativa. De acordo com estudo realizado em 2008 por pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon (EUA), as pessoas em geral preferem focar no custo-benefício de apostas individuais ao invés de observar o valor investido em diversas apostas ao longo dos anos. O problema é que os governos arrecadadores que são, e também viciados em impostos fáceis, como o são os arrecadados, indiretamente, nos jogos lotéricos. 

O pior é que agora os preços subiram igual a foguete, bem acima dessa mal medida inflação. Será que você vai continuar entrando em fila, tal qual cachorro que entra na igreja, sem saber por que?

Bom, como tudo que você faz diversas e diversas vezes acaba por lhe viciar e virar um hábito irracional e incondicional, quando você menos espera lá está você na fila da lotérica, sem saber porque. Assim também funcionam as boas práticas ou os maus hábitos ou vícos em geral, o cérebro humano coordena isso naturalmente, então pense e vigie bem seus costumes ou hábitos maus.

“Isto tem uma função psicológica para as pessoas”, sugere George Loewenstein, um dos autores. “Nosso prazer de viver não se baseia apenas em nossa situação atual, mas no que poderia ser, no que imaginamos que nossa situação pode se tornar”.[G1, CNN, Psychology Today, Journal of Behavioral Decision Making]

Mas, afinal, o que pensa o povo brasileiro?  

O Brasil é o país do futuro, como você já deve ter ouvido falar muitas vezes por aí. Somos um povo carismático, que vive em uma terra ''bonita por natureza''. Mas a realidade brasileira é muito diferente da pregada pelas frases batidas, principalmente com relação ao comportamento da população, como mostra o livro ''A cabeça do Brasileiro'', do professor universitário Alberto Almeida.

O autor ouviu mais de duas mil pessoas em 102 cidades brasileiras na pesquisa que abordou temas como relações raciais, religião, cultura, política, violência, comportamento sexual, direito civil e desigualdade social, entre outros. ''São valores básicos e enraizados que demoram a mudar'', afirma.

Em entrevista à FOLHA, Almeida coloca a baixa escolaridade média da população como principal responsável pelo conservadorismo, o comodismo e o famoso ''jeitinho'' brasileiro de lidar com as situações, apontando a educação a longo prazo como alternativa para mudar este panorama.

Como podemos classificar o perfil básico do brasileiro?

Na média, a escolaridade do brasileiro é muito baixa quando você compara a outros países do mundo. Isso faz com que ele seja muito conservador, tradicionalista, com mentalidade arcaica. Na prática, significa que ele ainda carrega preconceito contra homossexuais, apóia o ''jeitinho'', mistura o que é público e o que é privado, e aí você entende porque o espaço público é tão maltratado no Brasil. Ele ainda acha que o governo tem o papel de prover tudo - como se o governo fosse onipotente - e que o destino está nas mãos de um deus. Além disso, existe uma divisão muito grande no país. Quem tem ensino superior pensa de uma maneira muito diferente de quem foi apenas até o primeiro grau. Quando o assunto é sexualidade, as pessoas com formação de primeiro grau são muito conservadoras. As de nível superior são muito mais liberais.

A diferença regional é muito grande?

Existe, mas não é o fator determinante. Na região Sul as pessoas são menos conservadoras em tudo. Não porque nasceram no Sul, mas porque a escolarização é mais alta. Como no Nordeste a escolarização é mais baixa, o nordestino acaba sendo mais conservador. Fiz pesquisa com jovens de 18 e 24 anos em cidades como Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador. Os jovens gaúchos são mais liberais do que no Rio e em Salvador. Vai contra o que todo mundo pensa.

E na esfera política, como é o comportamento do brasileiro?

A política possui valores que demoram a mudar, e as pessoas confundem um pouco as coisas. O mesmo eleitorado que elegeu o tal de Lula elegeu o Fernando Henrique e elegeu também o Bolsonaro. A sociedade brasileira tem um acordo básico de tolerar a corrupção. Nos próximos 20 anos a corrupção vai ser alta, seja no município, no estado ou no governo federal. Depois desse período vai diminuir, porque a escolarização aumenta. É lento, mas aumenta. E quanto maior é a escolarização e a renda, mais a pessoa participa da política. Se a pesquisa fosse feita 20 anos atrás, você teria uma população mais acomodada com relação à política. Se ela for repetida em 2022, a povo será mais ativo porque vai aumentar a escolarização. E isso vale não só para o Brasil mas também para qualquer país do mundo.

Quando o assunto é violência, o brasileiro tende a ser mais radical?

O brasileiro acha que a violência pode ser usada para combater a violência. Apóia o linchamento, o ''olho por olho, dente por dente''. Se um estuprador for preso, pode ser estuprado dentro da cadeia. Tecnicamente, a gente sabe que isso não funciona. O bandido fica com mais ódio e acaba sendo mais violento ainda. É uma visão anti-institucional. A maneira de combater o crime é prender o suspeito, investigar, julgar e dar direito de defesa, depois oferecer condições minimamente dignas na prisão. Mas o brasileiro pensa assim: a polícia pegou, o cara está roubando? Mata! Isso não está relacionado à crença na Justiça, ou na polícia. Tanto aqueles que acreditam como os que não acreditam na Justiça, defendem igualmente o uso da violência para combater a violência.

O famoso ''jeitinho brasileiro'' é uma característica da maioria da população? Como corrigir isso?

O brasileiro inclusive se orgulha de dar um jeitinho. A solução é a escolarização a longo prazo. Não acontece de uma hora para outra. Tem gente que acha que é só mudar o governo que tudo melhora. Isso não existe. Você tem que mudar a sociedade. Para isso é necessário um investimento pesado em estrutura educacional. Acabar com a evasão escolar, melhorar a qualidade do ensino, valorizar professor. 

Não é o governo que precisa mudar, é a sociedade que precisa melhorar, e muito. (hypescience)

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