quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

RELAÇÃO ENTRE REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E URBANIZAÇÃO DESENFREADA


O crescimento das metrópoles e o consequente processo de urbanização, principalmente nos países em desenvolvimento, é uma das mais agressivas formas de relacionamento entre o homem e o meio ambiente. As cidades antigas eram menores, mais harmônicas e, mesmo quando erguidas em locais ambientalmente inadequados, agrediam menos o meio ambiente.

A partir da revolução industrial, o processo de crescimento das cidades se acelerou pelas duas razões já apontadas: a necessidade de mão-de-obra nas indústrias e a redução do número de trabalhadores no campo. 

A industrialização promoveu de modo simultâneo os dois eventos, um de atração pela cidade, outro de expulsão do campo. Antes da revolução industrial não havia nenhum país onde a população urbana predominasse. No começo deste século, apenas a Grã-Bretanha possuía a maior parte de sua população vivendo em cidades (Munford 1982). 

Pode-se afirmar que o Século XX é o século da urbanização, pois nele se acentuou o predomínio da cidade sobre o campo. Salvo regiões muito atrasadas, que permanecem com características nitidamente rurais, o processo de urbanização prossegue em marcha acelerada.

Os bolsões de pobreza são frequentes e justamente neles ocorrem as maiores taxas de natalidade.

As elevadas taxas de natalidade que ocorrem nas regiões mais pobres dos países em desenvolvimento tornam-se um fantástico fator de realimentação da pobreza, uma vez que criam um ciclo vicioso difícil de romper. As políticas que poderiam interromper esse ciclo de pobreza ou não existem ou são mencionadas timidamente. Desinteresse, tradição, religião e costumes dificultam a disseminação de informações sobre o controle da natalidade. O resultado é facilmente constatado: a população de mais alta renda, com acesso às informações, apresenta taxa de crescimento reduzido e diminuindo os empregos e os investimentos, enquanto os segmentos mais pobres apresentam taxas de crescimento elevadas, aumentando a falta de educação  e a violência.

A ideia da fixação do homem no campo como forma de evitar o crescimento das cidades carece de realismo. As pessoas vão para o meio urbano em busca de oportunidades para melhorar a vida, de emprego, de escola, coisas que nem sempre são encontradas em pequenos povoados do interior. A cidade pode ser associada a uma unidade produtiva complexa, produzindo ampla variedade de bens e serviços, estando permanentemente em busca de economias de escala, e sempre exercendo forte atração sobre os seres humanos.

Deve-se lembrar que sete das cidades mais populosas do planeta estão em países em desenvolvimento.  

Nos países industrializados é bastante alto o percentual de pessoas que vivem nas cidades, tendo o processo migratório interno atingido um certo ponto de equilíbrio. A maioria dos países em desenvolvimento ainda está distante desse ponto, e os fluxos migratórios internos do campo para as cidades, das regiões mais pobres para as mais ricas prosseguem.

Como um todo, o quadro latino-americano é favorável, e bem superior à média dos países em desenvolvimento da África e da Ásia. O problema é a profunda hetereogeneidade sócio-econômica da região. 

 A pobreza urbana tem aumentado. O Banco Mundial (Horizontes Urbanos, 1986) estima que exista no mundo mais de um bilhão de pobres, pessoas com renda anual inferior a 370 dólares. Desse total, um terço vive nas cidades, o que representa 25% da população urbana mundial, e entre 30 e 60% da população urbana dos países em desenvolvimento.

Não por acaso, os primeiros países a industrializem-se foram também os primeiros a conhecer a urbanização em sua versão moderna, tornando-se territórios verdadeiramente urbano-industriais. 

Atualmente, esse processo vem ocorrendo em países emergentes e subdesenvolvidos, tal qual o Brasil, que passou por isso ao longo de todo o século XX. Segundo a ONU, até 2030, todas as regiões do mundo terão mais pessoas vivendo nas cidades do que no meio rural.

O grande gargalo desse modelo é o crescimento acelerado das cidades, que contribui para fomentar a macrocefalia urbana, quando há o inchaço urbano, com problemas ambientais e sociais, além da ausência de infraestruturas, crescimento da periferização e do trabalho informal, excesso de poluição, entre outros problemas. Estima-se, por exemplo, que até 2020 quase 900 milhões de pessoas estarão vivendo em favelas, em condições precárias de moradia e habitação.

Aparentemente as grandes cidades não param de crescer, excetuando-se algumas cidades da Europa e algumas metrópoles norte-americanas onde o equilíbrio populacional já está praticamente atingido. De 1970 até o ano 2000, a maior cidade européia, Londres, deverá ter uma pequena redução de população, que oscila em torno de 11 milhões de habitantes. As cidades do México e São Paulo no mesmo período triplicarão as suas populações. 

Entre as principais causas do crescimento dessas cidades, e de outras metrópoles de países em desenvolvimento, está a migração do campo e das regiões mais pobres do país para os grandes centros urbanos, guiada pela crença de que esses centros seriam capazes de dar emprego, habitação, escola e serviços hospitalares, para a grande massa de cidadãos excluídos de qualquer benefício. Na maioria das vezes trata-se apenas de uma ilusão, pois a cidade grande muito pouco tem a dar ao migrante com pouca qualificação para o trabalho urbano. Desfeito o sonho, ele passa a viver em condições degradantes, muitas vezes piores do que as do início de sua jornada em busca de melhores condições de vida.

A favelização é um dos maiores efeitos da urbanização acelerada.

Só nos resta esperar para ver o futuro, onde, com certeza, tudo isso vai chegar.

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