domingo, 27 de setembro de 2020

FELICIDADE E OS CAMINHOS DA FELICIDADE


Hoje pode ser um dia como qualquer outro, ou pode ser o dia que sua vida será mudada radicalmente, há pessoas nascendo, há pessoas praticando o bem, assim como o mal, nossa vida é bem corrida. 

Muitas vezes deixamos de lado coisas que queríamos estar fazendo, ou adiando para um futuro que parece nunca chegar mediante a tantas coisas que botamos como prioridade em nossas vidas. 

Cada dia que passa é uma chance que perdemos de estar ao lado de quem se gosta, de fazer o que se tem vontade. Não se prive pelo que as pessoas irão pensar, diga que ama sim, sem medo de ser feliz, saiba que quando você assume um jeito, uma personalidade irá incomodar quem não tem, mas com certeza fará tudo o que lhe faz feliz. 

Quem disse que as coisas diferentes são caretas, se o que te faz feliz é dançar na chuva, vamos em frente dance , esse papo de careta é de gente que se priva da felicidade, lembre sempre o que vale é estar bem e feliz, além de ao lado de pessoas que  te fazem bem.

O professor Clóvis fala sobre felicidade e a necessidade de viver e ser feliz no momento presente.

Clóvis falou sobre felicidade, ética, falou de sua deficiência visual, suas escolhas sábias (tipo largar um cargo público no Senado para ser professor). Mas o ponto alto mesmo foi o momento em que falou de vida de qualidade, um contraponto ao conceito "qualidade de vida", onde considera que tal "falácia", para desespero dos promotores do bem-estar nas empresas, não pode ser um protocolo onde algum "ditador" diz o que é a felicidade do outro usando como parâmetro o que o faz feliz.

Clóvis de Barros Filho fala sobre a felicidade.

- O melhor especialista em sua felicidade é você mesmo.

Nisso, um garçom deixa um copo d´água sob seu púlpito translúcido e ele ironizou:

- Eu pedi Coca-Cola várias vezes desde que cheguei aqui e me trazem água. Isso é "qualidade de vida"!

O que acabou dando certo pois minutos depois o mesmo garçom trouxe um copo do refrigerante solicitado e Clóvis puxou sua bandeja para lhe aplicar um abraço fraterno, o que arrancou palmas de sua audiência.

E foi assim, beirando o politicamente incorreto, soltando um "legal pra baralho" aqui e acolá, que o palestrante passou seu recado.

O professor aposentado, Clóvis Barros Filho, que junto com Leandro Karnal e Mário Sérgio Cortella, formam o triunvirato dos maiores pensadores contemporâneos do Brasil, segundo a revista "Isto É".

Fique com sua palestra do TEDxSãoPaulo como uma amostra do que esse talentoso orador transmitiu sobre o que é ser feliz, na prática. E sinta-se motivado a buscar a sua felicidade.

Segue a transcrição do vídeo na íntegra:

- “Haverá quem diga que felicidade é você ter o que você quer. Eis aí a primeira dificuldade: não é possível. Porque quando você quer é porque você não tem ainda. E quando você tem, aí você já não quer mais. O desejo é sempre por aquilo que falta, por aquilo que nos faz falta.

E a energia mobilizada para ir atrás daquilo que queremos sempre encontra na falta a sua grande motivação.

Mas aí, é claro, um dia, como nem tudo é tão cruel e tão difícil, você consegue o que você tanto queria.

E quando você consegue, você não deseja mais, você não ama mais.

Os brinquedos recebidos no Natal estão em um baú de desejos assassinados pela presença, mortos pelo consumo, e as crianças querem os outros que elas ainda não têm.

A sociedade não pode nos deixar desejar de qualquer jeito. 

Essa força que temos para ir atrás daquilo que nos faz falta, ela não pode se manifestar no caos. É preciso, cada sociedade sabe disso, organizar o desejo, direcionar a energia para aquilo que não vai causar problema, para troféus legítimos, para conquistas que são ordenadoras da vida na sociedade.

Na escola, a gente aprende a desejar aquilo que faz falta.

Eu me lembro, no primário, que eram os quatro primeiros anos do ensino fundamental, a tia Maria das Graças dizia assim: "O primário é a preparação para o ginásio".

E aí, então, a gente ficou quatro anos esperando o ginásio.

"No ginásio seria bacana", ela prometeu. No ginásio seria mais legal. No ginásio a gente teria mais liberdade.

E aí, então, quando chegou o ginásio, tínhamos todos os motivos para acreditar que tudo seria lindo, haveria gozo, prazer, haveria felicidade. 

Mas mudou a coordenadora.

Entrou a tia Maria das Graças, que disse:

"Olha, os quatro anos do ginásio são para preparar para o colegial. No colegial, sim, é outro prédio, é bem mais legal, não tem que usar uniforme. Você pode escolher entre exatas, humanas e biológicas. Você já vai ser adulto, vai ser livre e, portanto, vai ser feliz".

Eram só mais quatro anos esperando.

Aí, chegou o colegial. 

Nos primeiros dias, fomos para a escola acreditando que a felicidade tinha chegado.

Ia ser do baralho, a vida ia ser linda! Haveria prazer, gozo e felicidade! Mas, agora, puseram um coordenador enorme, um cara gigante, chamado Mario Zan, que disse:

O colegial, vamos deixar de frescura, é para preparar vocês para o vestibular.

Ficamos mais três anos, já são 11, desejando...

E aí, todo mundo nos dizendo "quando".

"Quando acontecer isso, quando acontecer aquilo, quando for para lá... haverá felicidade."

Chegamos na faculdade, e os primeiros dias pareciam cumprir com a promessa.

Nossa, tinha a semana do calouro, miss bixete, havia bebida, muito sexo! Era muito legal, havia felicidade...

Mas, depois de três dias, a gente começou a passear pelos corredores...
Estágio aqui, estágio ali, estágio acolá.

Os veteranos dizendo:

"Malandro, sem estágio você está fugido. Se não pegar estágio, não vai dar certo, você vai perder o bonde da história; o trabalho vai escapar; você morrerá na sarjeta, nunca mais vai trabalhar!"

E você vai atrás do estágio, com sangue no olho e faca nos dentes, até que você consegue um estágio.

Você volta para casa eufórico.

"A felicidade chegou, eu tenho um estágio!" E, no primeiro dia do estágio, te tratam como um "estagiário".

E aí, você vê que não é muito legal o que disseram para você.

Na verdade, tenho até uma boa de estagiário.

Um superpresidente de uma empresa reúne seus vice-presidentes e pergunta, faz uma charada, um enigma.

Ele diz: "Escuta aqui, o que eu faço é prazer ou é trabalho? Vinte e quatro horas para responder".

Nossa, os VPs reúnem seus diretores, reúnem seus capatazes, seus asseclas.

"Escutem: o que o chefe faz aqui é prazer ou é trabalho?"
Os VPs reúnem os diretores, e aquilo vem descendo a empresa, toda a hierarquia da empresa.

Até que, no fim do corredor, tem um estagiário.

Ele tem pilhas de trabalho, dois telefones na orelha, ele tem um monte de coisa para fazer.

Alguém chega para ele e diz: "Ei, você, eu tenho que responder.

O que o presidente faz aqui é prazer ou é trabalho?".

E ele diz:

"É lógico que é prazer. Se fosse trabalho, eu é que faria, é lógico".

Aí você consegue o estágio, e alguém já te diz:

"Se você não for efetivado, não terá valido de nada o estágio".

E como você é bem bacana, bem aguerrido, um dia você tem a carteira assinada, você tem o diploma da universidade.

Você chega em casa e diz: "Foram 16 anos me preparando".

Você é o orador da turma na formatura e diz:

"São 16 anos aqui, mas a felicidade agora chegou. Eu tenho um emprego, e eu tenho, pasmem, um diploma universitário".

No primeiro dia do trabalho, você é recebido por um chefe. O chefe olha para você e diz: 

"A empresa tem 15 níveis. Você está no G-15".

O G-15 vale menos que um estagiário.

Não tem nem lugar para pôr sua bicicleta no estacionamento.

Você não vale nada.

Aí você diz: "E para subir, como é que eu faço?"

E ele diz:

"Tem que perseguir metas. Bater meta e fazer resultado".

Você olha e diz: "E o que é, exatamente, 'meta'?".

Ele diz: "É o seguinte, [metas] são como cenouras que vão rápido. Você sai correndo, pega a cenoura e entrega a cenoura para mim. Eu dou outra cenoura para você pegar e, assim, você vai batendo metas e vai subindo: G-14, G-13... é bem legal".

Você pega cenoura, entrega cenoura; pega cenoura, entrega cenoura; pega cenoura, entrega cenoura; pega cenoura, entrega...

Você está subindo...

Oito anos depois, encontra o mesmo chefe na cafeteria da empresa, e diz:

"Malandro, eu tenho uma única curiosidade: onde você enfia tanta cenoura, cara? Impressionante!"

Você vai subindo, subindo, subindo... De repente, você começa a ser chamado com letras. Letras em inglês, e tudo que é em inglês vale muito.

Você é ci-efe-ou, ci-i-ou, ci-cocou, ai-cocou, ci-fi-ou...

Você começa a perceber que... Nossa, mas sempre tem alguém acima. Sempre tem alguém humilhando você. Sempre tem alguém olhando de cima para baixo.

Aí, um dia te fazem uma festa. Ouça-me, estádio Allianz Parque: o dia que fizerem uma festa para você, você já dançou.

Vão te dar uma plaquinha, dizendo:

"Obrigado, perseguidor de cenouras".

Mas você, agora envelhecido, será substituído por alguém mais jovem e mais iludido.

Alguém ainda dirá: "Quando você se aposentar, vai ser bem legal".

Você pega o dinheirinho que sobrou. Você tem uma chacrinha, tem até um lago. E você pesca.

Aos 80 anos, você está nas últimas, com a família chorando em volta, ah! e ainda vai chegar alguém, pode acreditar, vai chegar alguém para dizer:

"Nada de tristeza, nada de tristeza, porque o melhor ainda está por vir".
Você, fragilizado, sem forças...

Você diz: "Malandro, me enganaram por 80 anos!".

E você não percebeu que, talvez, se a vida tinha alguma chance de ser feliz, não é quando "nada" acontecer, mas é já, aqui, neste canto do estádio. Ou a felicidade está aqui, ou não estará em nenhum outro lugar, porque a vida está aqui.

E aí, claro, você pensa que eu poderia ter esperado a minha hora de entrar.

Eu poderia estar ali sentadinho, e poderia pensar assim: "Nossa, mais uma palestra...".

Depois que me aposentei na universidade, esse é o meu ganha-pão.

Todo dia tem uma, felizmente, a família agradece.

"Então, deixa eu ir lá passar a régua, livrar a cara, que depois do almoço tem mais."

E aí, a felicidade seria quando isto aqui acabasse e eu fosse embora, para poder descansar, para poder comer.

E aí, você diz: "Pô, mas que pensamento tosco! Que pensamento pobre, que pensamento infeliz esse, de ficar ali esperando a palestra acabar, para eu poder, então, ser feliz. Que coisa mais medíocre!".

Pois é, mas, você chama de "happy hour" que horas? Você chama de happy hour segunda às oito da manhã ou sexta, às 18h? Para você, happy hour é a hora que o trabalho acaba.

Por que eu não tenho direito? Estou aqui trabalhando! Quando a palestra acabar é que vai ser legal.

Por enquanto, é um pedágio que tenho que pagar para a felicidade. Quando tudo acabar...

Daí você pensa:

"Tem alguma coisa errada nessa história".

Lógico que tem. Eu podia estar ali, sentado, e podia estar pensando assim:

"Eu nunca estive aqui. Palestra, neste lugar, nunca mais".

Nunca mais, nem se a gente voltar, todo mundo. Seremos diferentes.

Cada instante da vida é uma oportunidade mágica, irrecuperável e virginal.

Absolutamente inédita e nunca antes vivida.

É este momento que eu tenho para fazer, neste lugar, o melhor que eu puder fazer.

Eu tenho a chance de fazer, aqui, melhor do que ontem, e melhor do que os 30 anos de professorado que foram a minha vida.

Por quê? Porque hoje eu sou melhor do que ontem.

Porque hoje eu sou mais competente do que ontem; hoje eu sou mais preparado e mais experiente do que ontem.

Eu tenho a chance de fazer o melhor da vida.

E ali eu estava sentadinho, focado, para fazer aqui o melhor da vida.

A palestra da vida, o que de melhor eu já fiz, para que possa ter graça não na hora que terminar, mas durante.

E quando a felicidade começa antes, é melhor para a vida.

Se precisar esperar sexta, às 18h, para a vida ser feliz... Desculpa, a tua vida é muito ruim.

É bem melhor quando ela começa antes. E ela terá colorido.

Cada vez que você usar o instante vivido para buscar fazer o mais perfeito, a busca da excelência, o pleno desabrochar da própria essência, a busca da própria perfeição, que não vai acontecer no final de semana, mas vai acontecer já, porque agora é que a vida acontece.

E eu tenho a chance mágica de usar as melhores palavras, os melhores exemplos, tocar você no seu espírito com a máxima contundência.

Aí sim, eu estarei fazendo da minha vida uma vida de desafios, colorida e feliz.

Não é quando acabar, é já. E lamentarei demais o momento que acabe.

Porque se você me perguntar, e aqui não é mais ninguém famoso, aqui sou eu, felicidade é um pequeno segundo da vida, um pequeno instante, que você gostaria de repetir.

Felicidade é aquele segundinho que você não gostaria que acabasse.

Mas, como vai ter que acabar, você usa a inteligência para repetir.

Pode acontecer em qualquer lugar, pode acontecer no cinema.

Você vai ver o Darín em "O segredo dos seus olhos", e pensa:

"Nossa, acho que vou voltar aqui com minha mãe, para ela assistir este filme".

Isso é sintoma de felicidade no cinema.

Você está no bar, na Rua Aspicuelta, com alguém que você não conhece, esse alguém tem que ir embora, e você diz:

"Pô, deixa seu telefone, que vou ligar para a gente marcar de novo".

Isso é felicidade no bar.

E tem até aquele aluno que, no último dia de aula do curso, vira para você e diz:

"Professor, será que no ano que vem, eu não poderia assistir suas aulas de novo como ouvinte?".

E aí, você olha para o aluno e vê que só há uma razão para ele querer fazer o mesmo curso outra vez, ele vai ter que admitir: é que, durante as aulas, ele foi feliz.

E tomara, tomara, tenha sido assim aqui. Tomara, você não tenha nem sentido a minha chegada.

Tomara, você tenha se deixado conduzir pela minha fala, pensado na própria vida e lamentado que chegou a hora de eu me despedir.

Tomara, você pense que, talvez, se tivesse trazido a mãe, se tivesse sido meu aluno, se tivesse me olhado na internet, se tivesse me procurado antes, talvez tivesse antecipado este encontro.

E, se alguma dessas coisas aconteceu, admita, neste segundo, aqui, não depois, agora, você foi feliz.

Quando a vida poderia ter durado um pouco mais, quando a vida poderia se repetir, um dia. Tomara, tenha sido assim.

E aí, é claro, se foi assim, a meta que eu vim buscar bater foi batida e foi alcançada.

Porque não há nada mais legal do que você, em um lugar como este, proporcionar a alguém que você nunca viu um mísero segundo que esse alguém gostaria de repetir com você.

E se todos nós, para além das nossas metas cotidianas, nos déssemos ao trabalho de proporcionar a alguém do lado um instante de vida que esse alguém gostaria um dia de repetir...

Nossa, estaríamos, juntos, costurando uma sociedade infinitamente mais solidária, uma sociedade infinitamente mais justa, mais coesa, mais harmoniosa e mais feliz.

Porque, no final das contas, isto aqui que nós chamamos de Brasil somos nós. E se temos que melhorar, somos nós a melhorar.

E, se há algo a progredir, somos nós a fazer acontecer. Somos todos corresponsáveis.

É hora de, juntos, virarmos a página e patrocinarmos, com a nossa conduta e a nossa inteligência, uma convivência melhor e mais justa.

Que não seja para nós, mas que seja para aqueles que tanto amamos, que não pediram para nascer e esperam encontrar, quando começarem a viver, um lugar bacana de convivência, porque viver bem é conviver bem.

Viver bem é viver bem com os outros.

Viver bem é encontrar justiça para si e para os outros.

E isso é tarefa nossa; não haverá super-heróis, não haverá soluções milagrosas, não haverá grandes gênios a nos salvar.

Esta tarefa é exclusivamente nossa, de buscar felicidade através de uma convivência feliz.

Tomara, que pelo menos por um segundo, tenha sido feliz, como eu fui, ao longo desses minutos, aqui com você.

Muito obrigado e até a próxima, se Deus quiser.


Felicidade Clandestina - Clarice Lispector


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